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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Quando Olho para Mim não Me Percebo

Quando olho para mim não me percebo
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao saír

Das próprias sensações que eu recebo.


O ar que respiro, este licor que bebo,

Pertencem ao meu modo de existir,

E eu nunca sei como hei de concluir

As sensações que a meu pesar concebo.


Nem nunca, propriamente reparei,

Se na verdade sinto o que sinto.
Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei


Tal qual me julgo verdadeiramente?

Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,

Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.




Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

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