Pedaços de Tempo ... Pedaços de Nada ... Pedaços de Tudo

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Diz-me onde moras...

" Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada.
Por exemplo. Há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide. Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide.
Nunca mais ninguém o viu. Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!
Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide
Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.
Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos.
O tamanho e a arquitectura da casa não interessam

Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada, Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja? ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.

Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)

Ao ler os nomes de alguns sítios ? Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas, compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na CEE. De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém), como é que a Europa nos vai querer integrar?

Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses

Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar.

Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?", e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).

E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?",
Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz).

É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto, para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro?
Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda.
Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga), mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso?

Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas?

É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra".

Ninguém é do Porto ou de Lisboa. Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir. Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).

É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away...").

Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa. Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima!

Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros.
Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes dos restaurantes giraços, tipo Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...)


Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde), e acabando a comprar rebuçados em Bombom do "Bogadouro"¹, (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã).

¹ - Bogadouro é o Mogadouro quando se está constipado!!! "

Miguel Esteves Cardoso

Só para divertir um bocadinho que este país anda muito cinzento... Em todos os sentidos.

PS: Chegadinho por mail, da amiga Dinó ;)

5 comentários:

Anónimo disse...

Este homem é um senhor! Apenas isto MJ...

Assinado: Não anónimo e personagem não desconhecida pela autora do blog. XD

prof.essa disse...

PÔxa, ainda bem que eu nasci no Barreiro!Barra, eiro, nada de mais. Vivi no Lavradio, lavra , dio (tb dizem que o dio era um boi), mas nada de mais. Agora moro em Alhos Vedros, podia ser em Alhos podres, nada de mal. Mas trabalho perto de Deus, na escola do santinho A....tb não está nada mal...
Amanhã vou acordar bem disposta...só de pensar que podia ter nascido ou viver, por exemplo, em Rata, no concelho de Montemor-o-Novo, distrito de Évora. Olha o trauma! Imagina:«De onde és tu? De Rata»; »Olha lá vem aquela de Rata», Queres ir a Rata? À minha casa?» Que sorte a minha!!!!querido Barreiro
Bjs, Marcol

Maria Malvada disse...

Fred...
Um dia ainda vou ver umas coisas escritas por ti publicadas e vou dizer "Este homem é um Sr. e eu vi-o crescer" =D
Tens toda a razão.Genial!

Maria Malvada disse...

Oh amiga Marcol, ainda me fizeste rir mais com o teu comentário do que eu já tinha rido depois de ler a crónica do MEC... só tu xD xD
Mas fica a saber que ele ainda se esqueceu da "Picha" a 15 km de Pedrogão Grande, onde logo a seguir existe outra povoação de seu lindo nome "Venda da Gaita"... lol
Só assim alguns que me lembrei lol
É mesmo PORTUGAL no seu MELHOR!!!

prof.essa disse...

OI Malvada,
tb não quis ir tão longe, fiquei-me por «Rata», sempre é mais pertinho que «Picha».Mas se tivesse de escolher onde residir...Hum....Hum....na digo!